Coordenador : Simone da Conceição Silva
Ano: 2024
Edital: Edital Bolsa de Extensão 2024
Protocolo: 402115.2258.125722.21022024
Departamento/Setor: COC
Área Temática : Tecnologia e Produção
Tipo: Projeto
Publico Alvo : Agricultores assentados do Assentamento Cícero Guedes
Local de atuação: Assentamento Cícero Guedes
Objetivo
Primeiramente, é importante destacar que a temática das sementes não está circunscrita ao Brasil, antes, ela é um problema transnacional. Sobretudo na América Latina, este tem sido o ponto central das reivindicações de vários movimentos camponeses. No Brasil, durante o período de discussão da Lei 10.711 de 2003, graças às reivindicações de movimentos indígenas e de comunidades camponesas, criou-se brechas nessa lei, que permitiram a estes a utilização de suas próprias sementes, bem como isenta as sementes crioulas da necessidade de inscrição no Registro Nacional de Cultivares (RNC). Verificamos também que a temática dos BCSs tem sido trabalhada, predominantemente, pelas áreas da engenharia agrícola, geografia e pela etnobotânica. No entanto, consideramos que os profissionais das ciências sociais podem assumir um papel fundamental na compreensão e edificação dos bancos comunitários de sementes. Isso devido ao rico arcabouço teórico desenvolvido pelas ciências sociais em torno das dinâmicas de sociabilidade, associativismos e confiança - temas os quais se mostraram tão caros à implementação e ao bom funcionamento de um BCSs. Como observado por Octavio Sánchez (ANAFAE/ Honduras), a atual discussão sobre as sementes e sua privatização consiste em uma luta entre dois modelos contraditórios: um modelo de agricultura extrativista, impulsionado pelas políticas estatais e baseado na monocultura e na agroexportação, frente à agricultura camponesa e indígena, que têm por fundamento a soberania alimentar. E as implicações das novas regulamentações sobre as sementes não se referem apenas a mudança de um sistema de produção, mas também a prejuízos a sistemas ecológicos, culturais, e a modos de vida. No entanto, não basta que a questão seja identificada, é preciso uma tomada de ação. E para que haja a mobilização social, é necessário um processo de conscientização coletiva, de modo participativo e particular a cada contexto específico (GAROFOLO, 2017, p. 33). A questão da formação coletiva é de fundamental importância. Especialmente no município de Campos, no qual, como já demonstrado, os pequenos agricultores se mostraram incertos sobre os benefícios e os procedimentos de instauração de um BCSs. Sendo assim, temos traçado como objetivo dar continuidade às oficinas de formação, a fim de trabalhar as seguintes questões: apresentar as iniciativas de bancos comunitários existentes em outras regiões do país, por exemplo, o nordeste; apresentar, por meio de material audiovisual, bancos existentes em países vizinhos; auxiliar o grupo na gestão do banco implementada em 2023; trabalhar o conteúdo da cartilha desenvolvida em 2021 com o grupo assistido; continuar arrecadando doações de sementes crioulas de outroas assentamentos e agricultores de outras regiões; trabalhar questões como o uso do agrotóxico e saúde; políticas públicas voltadas para a manutenção de nossa agrobiodiversidade; mapear as sementes e suas história e desenvolver um campo de multiplicação de sementes crioulas no assentamento. Conforme demanda apresentada pelo grupo à ex-bolsista durante a avaliação, teremos três oficinas com a participação de especialistas: 1) Oficina sobre pragas locais: besouro marrom, formigas, lagartas e o bicho do feijão. Convidados desta oficina: professores ligados ao Museu de Entomologia da UENF; 2) Oficina de práticas preventivas agroecológicas: cultivo do milho, do feijão e as bananeiras. Convidado: Professor Fábio Coelho (UENF) 3) PANCs locais: conhecimento das chamadas plantas não-convencionais locais e desenvolvimento de receitas com fins doméstico e comercial. Convidada: Professora Odara Boscolo, Laboratório de Botânica Econômica e Etnobotânica- LABOTEE UFF (Niterói) Para tal, daremos também continuidade ao processo de realização do mapeamento das histórias das sementes e das famílias, além da continuidade das oficinas. Buscaremos trabalhar com as mulheres locais, considerando o aspecto de gênero, procurando, assim, meios para que elas sejam protagonistas do banco tal como os homens. Na unidade familiar o trabalho atribuído às mulheres muitas das vezes é classificado como doméstico ou de ajuda no processo produtivo. Neste caso, apenas os homens são considerados os responsáveis pela produção. (ADÃO; STROPASOLAS; HÖTZEL, 2011, p.162).
Resumo
O projeto visa a auxiliar pequenos e pequenas agricultoras a desenvolver e implementar banco comunitário de sementes crioulas/tradicionais, que, em várias regiões do país, tem se tornado um dispositivo indispensável às comunidades tradicionais para reverter a atual condição de insegurança alimentar. Pretendemos, assim, oferecer oficinas que sejam capazes, por um lado, de mobilizar o público participante, e, por outro, mapear a agro biodiversidade local e compreender a história das sementes e das famílias. Na atual fase do projeto, no Assentamento Cícero Guedes, estamos auxiliando as famílias participantes na gestão do banco implementado em 2023. Trabalhamos com os bancos a partir do conceito de tecnologia social, entendendo, assim, que essa iniciativa contribui para a superação de desigualdades (raciais e de gênero) e para o desenvolvimento social, especialmente, no que concerne ao combate à fome.