Coordenador : Nazareth de Novaes Rocha
Ano: 2024
Edital: Edital Bolsa de Extensão 2024
Protocolo: 401813.2258.352729.16022024
Departamento/Setor: MFL
Área Temática : Saúde
Tipo: Projeto
Publico Alvo : Acadêmicos do curso de graduação em Odontologia, profissionais da Odontologia interessados em atualização, comunidade local do município de Niterói que faz acompanhamento da saúde bucal nos ambulatórios da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal Fluminense.
Local de atuação: Atividade Presencial: Faculdade de Odontologia Universidade Federal Fluminense - Campus Valonguinho R. Mario Santos Braga, 30 - Centro, Niterói - RJ, 24020-140 Atividade Online: por meio do Google Meeting
Objetivo
As 6 vertentes que serão abordadas na Liga serão: (1) distúrbios metabólicos glandulares e suas correlações com o sistema estomatognático; (2) doenças orovalvares e cavidade bucal; (3) anatomia voltada para a anestesia local ; (4) emergências médicas na clínica odontológica; (5) revisões em fisiologia; (6) infecções de origem buco-maxilo-facial e abordagem farmacológica. 1) DISTÚRBIOS GLANDULARES E O SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO: DIABETES E CAVIDADE BUCAL. O diabetes mellitus (DM) e suas complicações são alguns dos problemas de saúde crônicos mais significativos e crescentes no mundo, afetando cerca de 425 milhões de pessoas – aproximadamente 90% desses indivíduos apresentam diabetes mellitus tipo 2 (DM2). No Brasil, cerca de 12,5 milhões de adultos são afetados, representando 9% da população. Indivíduos com essa doença podem desenvolver resposta ao acúmulo de biofilme bacteriano (placa bacteriana) junto aos tecidos gengivais de forma precoce e hiperinflamatória, quando comparados aqueles sem diabetes. Trata-se de uma condição de tratamento relativamente simples, centrado na remoção de placa bacteriana (fator etiológico primário), cálculo dentário e instrução e motivação aos corretos cuidados de higienização bucal diária. Devido a destruição do aparato de suporte dos dentes, a periodontite severa pode culminar em perda dentária. Estudos indicam que, em adultos, a periodontite é a principal razão para essa perda. Foi demonstrado, em diferentes populações, que a perda dentária total ou parcial está associada ao pobre controle glicêmico do DM. Entre adultos dentados, aqueles com DM têm maior número de perdas dentárias. Sugere-se que o tratamento periodontal seja benéfico para o controle glicêmico do DM2. A magnitude das reduções de hemoglobina glicada (HbA1c) de curto prazo obtidas após as intervenções periodontais é semelhante àquela comumente alcançada pela adição de uma segunda medicação a um regime farmacológico. Se tais reduções após a terapia periodontal puderem ser mantidas em longo prazo, isso pode contribuir para a redução da morbidade e mortalidade associadas à doença.1,2 DISFUNÇÕES DA GLÂNDULA TIREOIDE. A glândula tireoide é responsável pela produção dos hormônios triiodotironina (T3) e tiroxina (T4), os quais são importantes no crescimento, desenvolvimento e metabolismo celular. Os distúrbios de tireoide são um problema de saúde pública afetando a saúde materna e da criança, a redução das doenças não transmissíveis e o envelhecimento saudável. Como resultado, os distúrbios de tireoide estão absolutamente ligados a muitos dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da saúde. As doenças da tireoide são comuns no contexto da assistência primária em saúde, encontrando-se no conjunto das 25 condições mais frequentemente diagnosticadas por médicos de família americanos O hipotireoidismo é um estado clínico resultante de quantidades insuficientes ou ausência de hormônios tireoidianos circulantes, e o hipertireoidismo é um estado causado pelo aumento da função da glândula tireoide e dos seus hormônios. Algumas das manifestações orais mais comuns relacionadas ao hipertireoidismo estão: alterações nos tecidos ósseos da face (osteoporose do osso alveolar), os dentes e maxilares se desenvolvem rapidamente, perda prematura dos dentes decíduos, erupção precoce dos dentes permanentes, cáries dentárias e doença periodontal. As alterações bucais encontradas no hipotireoidismo são: hipoplasia condilar, atresia maxilar ou mandibular, prognatismo maxilar, má oclusão, hipoplasia de esmalte e dentina, retardo na erupção dentária e no desenvolvimento radicular, hipossalivação, macroglossia, demora maior na reparação dos tecidos e cicatrização de úlceras em boca. O conhecimento sobre interação entre os medicamentos, sejam eles para repor hormônios no caso do hipotireoidismo (levotiroxina), ou para inibir a síntese deles no caso do hipertireoidismo (propiltiouracila), devem ser avaliadas. Pacientes hipotireóideos que fazem reposição hormonal, toleram menos os analgésicos opioides, e pacientes com hipertireoidismo, tratados com propiltiouracila, podem apresentar parotidites, úlceras bucais além de quadros de agranulocitose. Os pacientes com hipertireoidismo não controlado são altamente sensíveis à adrenalina, e neles o emprego de anestésicos locais com adrenalina é formalmente contraindicado com o risco de surgimento de crise tireotóxica.3,4 2) DOENÇAS OROVALVARES E SAÚDE BUCAL: A endocardite infecciosa (EI) é uma complicação grave das valvopatias, sendo frequentemente fatal. Desta forma, havendo a possibilidade de fazer profilaxia para tal entidade, a mesma deveria ser aplicada. Os estreptococos fazem parte da flora normal da orofaringe e trato gastrointestinal e causam pelo menos 50% das EI adquiridas na comunidade em nosso meio. Demonstrou-se bacteremia pelos estreptococos do grupo viridans em até 61% dos pacientes, após extração dentária e cirurgia periodontal (36% a 88%). Trabalhos epidemiológicos recentes mostram relação entre tratamento dentário duas semanas antes e episódios de EI. Atividades rotineiras, como escovação de dentes (0 a 50%), uso de fio dental (20% a 68%), uso de palito de dentes e mesmo mastigação de refeição (7% a 51%), encontram-se também associadas à bacteremia. Por este motivo, mais importante que a profilaxia antes de procedimentos dentários é a manutenção de ótima saúde bucal em portadores de doença valvar. Aqueles com boa saúde bucal têm menor possibilidade de bacteremia em atividades cotidianas. Assim, faz parte da profilaxia não farmacológica da EI reforçar em todas as consultas a necessidade de se manter uma ótima saúde bucal e aumentar a frequência das consultas odontológicas, de duas (recomendação para a população em geral) para quatro vezes ao ano. Devemos ressaltar que muitas das afecções odontológicas que mais causam EI são oligossintomáticas, como a gengivite e lesões periapicais endodônticas. Para tratamento dentário, o antibiótico deve ser ministrado uma hora antes do procedimento. O regime usado deve impedir a bacteremia por estreptococos viridans sempre que for manipulado tecido da gengiva ou da região periapical do dente. Desta forma, é importante que todos os pacientes portadores de valvopatias sejam plenamente orientados no que tange à sua saúde bucal e ao tratamento dentário com cobertura antibiótica.5,6 3) ANATOMIA VOLTADA PARA ANESTESIA LOCAL : A inervação dentária é provida pelo nervo trigêmeo. O nervo trigêmeo emite três ramos: oftálmico, maxilar e mandibular. Na maxila os ramos alveolares anterior, médio e posterior e os nervos nasopalatino e palatino maior são responsáveis pela sensibilidade dos dentes superiores e estruturas anexas. Os nervos alveolares inferiores, lingual e bucal são ramos do nervo mandibular. O nervo alveolar inferior se distribui pelas raízes dos dentes inferiores. Dentre esses os ramos maxilar e mandibular são de suma relevância para o profissional cirurgião dentista. Conhecer a anatomia topográfica e regional das estruturas envolvidas torna a técnica anestésica mais precisa.7,8,9,10 4) EMERGÊNCIAS As emergências médicas configuram uma situação ou condição em que há risco de morte, portanto, não deve haver protelação ao atendimento. Sendo a emergência um evento imprevisível, o profissional não pode ocorrer em omissão de socorro. Segundo a Lei 5081/66: Art. 6º - Compete ao cirurgião-dentista: VIII - prescrever e aplicar medicação de urgência no caso de acidentes graves que comprometam a vida e a saúde do paciente. Tanto os acadêmicos em Odontologia quanto os profissionais precisam estar cientes que, para atuarem na profissão devem assumir responsabilidades que vão muito além de um tratamento odontológico. O cirurgião-dentista (CD) deve tomar consciência de que, ao restringir sua atuação apenas para a cavidade oral, sem considerar o estado geral de saúde do seu paciente, poderá estar aumentando, significativamente, as chances de ocorrência de um evento emergencial. Para tanto, obter o diagnóstico precoce das alterações sistêmicas que atingem o paciente é de grande importância para minimizar os riscos de ocorrência de uma urgência-emergência médica durante o atendimento odontológico. No estudo de Haese RDP e Cançado RP, foi observado que a maioria dos profissionais inclui, na sua avaliação clínica, a queixa principal e a anamnese (93,7% e 90,5%, respectivamente), porém uma menor porcentagem (28,4%) realiza a avaliação dos sinais vitais. Entre aqueles que avaliam os sinais vitais, a maioria (53,7%) afirma que afere a pressão arterial de seus pacientes previamente aos procedimentos odontológicos, com maior frequência antes de procedimentos cirúrgicos (33,3%). Na variável revisão dos sistemas podemos afirmar que, quando possuem especialização, os CDs fazem, com mais frequência, esse tipo de avaliação clínica (p= 0,007). Desta forma, torna-se necessário a implementação de eventos e práticas que orientem aos futuros profissionais a prática da anamnese e sinais vitais e incentivem aos mesmo a realização do curso de Suporte Básico à Vida (SBV).11,12,13 5) REVISÃO EM FISIOLOGIA HUMANA: O conhecimento da Fisiologia Humana é essencial para o cirurgião-dentista uma vez que possibilita a compreensão do funcionamento fisiológico das diversas áreas do corpo humano, auxiliando no entendimento das suas principais relações com o sistema estomatognático – uma região anatomofuncional que engloba estruturas da cabeça, face e pescoço –, área de atuação do cirurgião-dentista. Além disso, é importante para o cirurgião-dentista deter tal conhecimento para ser capaz de compreender os variados quadros clínicos e tratar de forma adequada os pacientes sistemicamente comprometidos. Outro aspecto relevante que deve ser citado é a importância da fisiologia para a interpretação dos exames laboratoriais como hemogramas, colesterol, ureia e creatinina, exames de urina e de fezes, glicemia, eletrocardiograma, entre outros. Isso porque, de acordo Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) na Súmula Normativa número 11, de 20 de agosto 2010, o cirurgião-dentista pode solicitar exames complementares, como radiografias, ressonância magnética, solicitação de risco cirúrgico e exames de laboratório em geral, e internação dentro de sua área de atuação.14,15 6) INFECÇÕES DE ORIGEM BUCO-MAXILO-FACIAIS E SUAS ABORDAGENS FARMACOLÓGICAS No complexo buco-maxilo-facial, as infecções podem ser classificadas em não-odontogênicas, que são causadas por infecções de mucosa oral, de glândulas salivares, dentre outras, e as de origem odontogênica que podem ser causadas por vias periodontais, pulpares ou pericoronárias. Infecções odontogênicas podem gerar abcessos, osteomielites e celulites que são capazes de se disseminar para espaços diferentes daquele de sua origem, através de proximidade, de fístulas, da corrente sanguínea e de vasos linfáticos. Locais próximos como seios paranasais (principalmente os maxilares) são bem suscetíveis a tal disseminação, visto a grande relação com os ápices dos molares e pré-molares superiores com o assoalho do seio. Órgãos à distância podem ser acometidos através da circulação por bacteremia ou trombos infectados, como na endocardite bacteriana e tromboflebite do seio cavernoso. Já o acometimento dos espaços fasciais, principalmente do espaço mastigador, consegue levar as infecções a outros espaços fasciais mais profundos, ocasionando fasciítes, mediastinites e até meningites. Todas estas patologias são fatais e o diagnóstico precoce das infecções do complexo buco-maxilo-facial são de extrema importância para o cirurgião-dentista não permitir chegar em tal estágio. A profilaxia antibiótica, assepsia pré e pós-operatória, isolamento do campo operatório, evitar anestesia local em área infectada são medidas usadas para impedir a infecção dos dentes e estruturas adjacentes. O conhecimento da fisiopatologia das infecções, a anatomia das estruturas envolvidas em tal processo e a farmacologia dos antibióticos é imperativo para a resolução dos quadros infecciosos.16,17
Resumo
A Liga Acadêmica de Fisiologia e Anatomia Aplicadas à Odontologia (LAFAAO), composta por estudantes de graduação associados à graduação de Odontologia da Universidade Federal Fluminense tem como objetivo a promoção, debate e divulgação do conhecimento das áreas de Anatomia e Fisiologia Humana para a comunidade acadêmica e esclarecimento das principais doenças sistêmicas envolvidas no contexto da saúde bucal para a sociedade. As 6 vertentes que serão abordadas na Liga serão: (1) distúrbios metabólicos e sistêmicos e suas correlações com o sistema estomatognático; (2) doenças orovalvares e cavidade bucal (prevenção da endocardite); (3) anatomia voltada para a anestesia local ; (4) emergências médicas na clínica odontológica; (5) revisões em fisiologia e fisiopatologia; (6) infecções de origem buco-maxilo-facial e abordagem farmacológica. Além disto, a Liga pretende atuar na pesquisa intitulada Avaliação da Xerostomia em Indivíduos acima dos 60 Anos e suas Repercussões na Qualidade de Vida, já aprovada pelo Comitê de Ética Local sob o número: 6.469.014. A identificação dessa condição é imprescindível para atenuação de seus efeitos que vão desde mau hálito, dificuldade para falar e engolir, intolerância a próteses, perdas de paladar até a suscetibilidade a problemas como a cárie e a doença periodontal. Assim, torna-se de extrema importância o conhecimento das consequências da xerostomia na saúde bucal e das medidas a serem tomadas para atenuação de seus efeitos na qualidade de vida do paciente portador.