Coordenador : Roberto Kant de Lima
Ano: 2024
Edital: UFF/PROEX - Fluxo Contínuo 2024
Protocolo: 406224.2247.56467.23102024
Unidade/Órgão Adm.: -
Departamento/Setor: PROPPI
Área Temática : Educação
Tipo: Eventos
Publico Alvo : Professores e estudantes de Escolas Públicas Estaduais e Municipais do Rio de Janeiro
Local de atuação: Instituto Nacional de Ciências e Tecnologia - Instituto de Estudos Comparados em Administração de Conflitos/ Universidade Federal Fluminense (INCT- InEAC/UFF)
Objetivo
O objetivo geral da III Feira de Ciências Simoni Lahud Guedes: Conflitos e Diálogos na escola em uma perspectiva Multidisciplinar consiste em fomentar esse diálogo entre escolas, estudantes e professores, envolvendo professores e pesquisadores da Universidade e do INCT/InEAC, sobre temas relacionados à administração de conflitos no ambiente escolar, a partir de uma perspectiva multidisciplinar. Pretendemos, com isso, incentivar a formação de um ambiente participativo mais eficiente na administração adequada de conflitos na escola que contribua para uma formação cidadã, que envolve, fundamentalmente, o aprendizado de processos de discussão respeitosa entre interesses e ideias divergentes, que resultem no respeito de todos a regras construídas consensualizadamente, a serem aplicadas de forma universal e uniforme, a todos os envolvidos de maneira análoga. A III Feira de Ciência proposta pretende ser um espaço para essa construção, estimulando os alunos a desenvolverem produtos midiáticos relacionados aos temas suscitados ao longo das atividades relacionadas à feira. Por outro lado, sua realização implica ampliar e acumular uma reflexão teórica sobre esses processos, a ser partilhada e preservada em publicações impressas e virtuais para orientar demais interessados na criação de tecnologias sociais voltadas para o desenvolvimento e aprendizado de processos de administração de conflitos escolares. Outro propósito deste evento é que os alunos tenham contato com a educação científica multidisciplinar, a partir de temas relacionados às suas experiências cotidianas e demandas sociais, e que a partir disso, possam utilizar as mídias como espaço de reflexão, produção e expressão de seus direitos. Na medida em que esta proposta parte da interlocução entre professores/pesquisadores da rede pública e professores/pesquisadores das universidades públicas, o que também se pretende fazer, entre outras coisas, é uma espécie de ponte entre a escola pública e as universidades públicas. Como se sabe, no quadro atual, algumas escolas da rede particular, usando variadas metodologias, é que preparam os alunos para ter sucesso na prova nacional que dá acesso às universidades públicas, sobretudo para que estes sejam mais competitivos se sua pretensão for por carreiras mais procuradas. O aluno da rede pública, por sua vez, recebe um diploma que, se por um lado o habilita a entrar na universidade (caminho que a maioria não toma), faz com que ele tenda, na falta de outra qualificação, a ser um profissional mal remunerado e facilmente substituível, no mercado de trabalho. Assim, este projeto pretende também despertar e desenvolver nos alunos a consciência para possíveis aptidões como aspirantes a trabalhadores e pesquisadores qualificados em diversas áreas e em alguma medida profissionalizando-os, para alargar seu leque de opções, mostrando a eles possibilidades que normalmente não costumam vivenciar no âmbito das suas trajetórias escolares, a partir de reflexões de suas próprias vivências cotidianas. Desta forma, a relevância deste projeto vai ao encontro de importantes planos nacionais e internacionais para o estímulo ao desenvolvimento de ciência, tecnologia e inovação , como o Plano de Ação em Ciência, Tecnologia e Inovação para Popularização e Divulgação da Ciência e Tecnologia do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação do MCTIC, publicado em 2018, e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU estabelecidos pela agenda 2030, para promover o acesso à informação e incentivo à inovação, em prol de uma educação de qualidade. As pesquisas realizadas no âmbito do InEAC têm demonstrado que as instituições encarregadas de administrar conflitos em nossa sociedade (polícias, judiciário, entidades religiosas, etc.) partilham uma estratégia comum, muitas vezes expressa na pacificação da sociedade (KANT DE LIMA, 2008). Essa estratégia pressupõe que os conflitos têm uma repercussão negativa na harmonia social, considerada como o status ideal das relações sociais. Esta visão estática da ordem social se apresenta fortemente vinculada às nossas tradições religiosas e jurídicas que pretendem, por isso mesmo, abordar os conflitos de maneira repressiva, seja pelo uso de tecnologias judiciárias repressivas, seja através de tecnologias militares, voltadas ao extermínio dos inimigos da ordem social estabelecida. Assim, sistematicamente atuam ignorando os conflitos, seja negando-os, abafando-os, extinguindo-os com argumentos de autoridade ou, até mesmo, extinguindo os cidadãos neles envolvidos. Disseminada em nossa sociedade, esta perspectiva contamina a socialização escolar. Nossa perspectiva, no entanto, é bem outra na abordagem desta problemática. Os conflitos são inevitáveis em qualquer sociedade, mas especialmente em sociedades republicanas e democráticas, onde os cidadãos iguais em direitos têm, inevitavelmente, interesses diferentes, o que torna o conflito estruturante da própria sociedade, que está sempre envolvida em uma dinâmica de mudança da ordem social na medida em que conseguir administrar esses conflitos de forma adequada. Assim, no espaço escolar, a proposta do InEAC busca adotar uma perspectiva que não visa, necessariamente, a resolução ou a repressão dos conflitos. A intenção é, sobretudo, explicitar a natureza desses conflitos para, posteriormente, administrá-los satisfatoriamente a partir da perspectiva dos envolvidos. Por conta disso, para realizar-se, tal proposta torna essencial entender as necessidades dos alunos e torná-los partícipes do processo de construção do conhecimento científico sobre o tema. Um dos fatores que merecem destaque sobre a importância do evento é que a administração de conflitos dentro do ambiente escolar é algo que a cada dia requer mais atenção dos professores e gestores das instituições de ensino. Mais ainda, como uma forma de entender, antecipar e responder adequadamente aos conflitos, que surgem cada vez com maior frequência, é importante que todos os envolvidos no processo de educação escolar possam exercitar um olhar multidisciplinar para os problemas, não a partir de apenas uma área do conhecimento, mas que permita um entendimento mais amplo sobre os fatores interpessoais e sociais que envolvem a complexidade dos temas relacionados aos processos de administração de conflitos surgidos no seu cotidiano escolar. Como podemos observar nos jornais de grande circulação, cotidianamente nos deparamos com notícias sobre as dificuldades dos professores e gestores escolares em enfrentar a violência e os conflitos escolares como parte da rotina de atividades pedagógicas. Temas como Bullying e Ciberbullying, casos de violência, agressão, racismo, drogas, conflitos religiosos, entre outros, são alguns dos conflitos recorrentes e parte da rotina das escolas. Portanto, torna-se cada vez mais necessário que as escolas brasileiras desenvolvam estratégias e tecnologias sociais de gestão para intermediar os conflitos existentes ou em processo de gestação dentro dos ambientes escolares. Para tanto, parece ser urgente que as escolas possam desenvolver tecnologias sociais inovadoras para administrar os conflitos, privilegiando as percepções das partes envolvidas em uma perspectiva interdisciplinar. Por outro lado, tão urgente quanto essa administração, é a importância de produzi-la em diálogo com os alunos, envolvendo-os em atividades sócio educativas que possam administrar eficazmente os conflitos recorrentes no ambiente escolar. Um dos caminhos para promover este diálogo entre a escola e o aluno é entender a natureza de seus conflitos, suas preocupações, seus comportamentos, seus modos de consumo, incentivando-os a engajar-se nas atividades escolares para além dos modelos tradicionais verticalizados hierarquicamente, que se utilizam frequentemente de argumentos de autoridade e não da autoridade dos argumentos (DEMO, 1995), para os quais a escola é mais uma instância de assimilação e reprodução baseada nas figuras de autoridade. A socialização de alunos (gestores e professores) na discussão e consensualização do significado das regras e na importância de obedecê-las, desde que sejam aplicadas universal e uniformemente nos grupos envolvidos, é a via virtuosa da socialização cidadã do adulto. As pesquisas desenvolvidas pelo INCT/InEAC no âmbito da temática da administração dos conflitos no espaço escolar, como apontado anteriormente, buscam adotar uma perspectiva que não visa, necessariamente, a resolução ou a repressão dos conflitos. A intenção é, sobretudo, explicitar a natureza desses conflitos para, posteriormente, administrá-los satisfatoriamente a partir da perspectiva dos envolvidos. Nesse sentido, a relação entre Universidade e Escola deve acontecer observando que os próprios estudantes precisam participar da construção do conhecimento científico, fazendo com que os mesmos se tornem agentes envolvidos em todas as etapas de uma pesquisa científica, ao mesmo tempo em que adquirem e/ou habilidades para o exercício competente da cidadania em suas trajetórias futuras. Por conta disso, para realizar-se, tal proposta torna essencial entender as necessidades dos alunos e torná-los partícipes do processo de construção do conhecimento científico sobre o tema. Destaca-se, também, a perspectiva metodológica comparativa por contraste própria da Antropologia contemporânea que orienta o enfoque geral da pesquisa (GEERTZ, 1978), juntamente com o caráter multidisciplinar que está sendo adotado no desenvolvimento de todas as edições da Feira de Ciências, concepções importantes desde o início do INCT/InEAC e reproduzidas nos cursos de graduação (bacharelado e tecnólogo on line em Segurança Pública e Social e mestrado em Justiça e Segurança, todos na UFF).
Resumo
A proposta deste projeto consiste em dar continuidade à organização da Feira de Ciências Conflitos e Diálogos na Escola, voltada para o ensino médio, buscando trabalhar a educação científica a partir de temas relacionados aos processos de administração de conflitos em ambientes escolares. A III Feira de Ciências iniciará em março de 2024, quando começará o processo de inscrição que termina em 03 de maio, de forma online. Após a inscrição dos trabalhos dos estudantes, em junho de 2024, em que convidaremos pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento para auxiliar a orientar teoricamente os professores e alunos participantes nas diferentes temáticas de conflitos escolares escolhida pelos mesmos. Entre agosto e outubro realizaremos rodas de conversa nas escolas parceiras ao projeto. No mês seguinte os estudantes participantes terão que entregar o podcast e um resumo expandido como resultado de suas pesquisas. Em dezembro de 2024, realizaremos o seminário de encerramento, em que a comissão avaliadora convidada será chamada para divulgar os três melhores trabalhos, bem como discutir com os estudantes e professores participantes os temas que geram conflitos escolares. Dessa forma, cabe salientar que este evento será híbrido, composto por essas quatro atividades com a finalidade de propiciar um espaço de reflexão acadêmica sobre os processos de administração dos conflitos escolares a partir de uma perspectiva empírica.